ACADEMIA

domingo, 15 de outubro de 2017

‘Capoeira gospel’ cresce e gera tensão entre evangélicos e movimento negro


Estavam presentes o berimbau, o atabaque, a ginga e os saltos mortais. Quase tudo fazia lembrar um jogo de capoeira típico, mas, em vez dos cânticos que enaltecem os orixás ou trazem referências à cultura negra, os versos faziam louvor a Jesus Cristo e a roda era alternada com momentos de pregação e oração.
“Não deixa seu barco virar, não deixa a maré te levar, acredite no Senhor, só ele é quem pode salvar”, cantavam as cerca de 200 pessoas, reunidas na quadra de uma escola para o “1º Encontro Cristão de Capoeira do Gama” (cidade satélite de Brasília), numa tarde de sábado.
Era mais um evento de capoeira evangélica, também chamada de capoeira gospel, vertente que ganha cada vez mais adeptos no Brasil, principalmente por meio da palavra e do gingado de antigos mestres que se converteram à religião.
Se antes a prática enfrentava resistência dentro de igrejas, agora, nessa nova roupagem, é cada vez mais considerada uma eficiente ferramenta de evangelização.
“Não deixa seu barco virar, não deixa a maré te levar, acredite no Senhor, só ele é quem pode salvar”, cantavam as cerca de 200 pessoas, reunidas na quadra de uma escola para o “1º Encontro Cristão de Capoeira do Gama” (cidade satélite de Brasília), numa tarde de sábado.
Se antes a prática enfrentava resistência dentro de igrejas, agora, nessa nova roupagem, é cada vez mais considerada uma eficiente ferramenta de evangelização.
“Hoje é difícil você ir numa roda que não tenha um (capoeirista evangélico), e vários capoeiristas viraram pastores. É um instrumento lindo de evangelização porque é alegre, descontraído, traz saúde, benefícios sociais”, afirma Elto de Brito, seguidor da Igreja Cristã Evangélica do Brasil e um dos palestrantes do evento.
Praticante de capoeira há 40 anos e convertido há 25, Suíno é líder do movimento “Capoeiristas de Cristo”, que estima reunir cerca de 5 mil pessoas no País. Ele realiza encontros nacionais em Goiânia há 13 anos – a edição de 2018 será pela primeira vez em Brasília.
O mestre calcula ainda que já existem cerca de 30 “ministérios” de capoeira, ou seja, grupos diretamente ligados a igrejas.
“Há um cuidado para não chocar com as visões da igreja. Cuidado com a roupa, com o linguajar, com as músicas, mas que “não necessariamente tem que ser só música que fala de evangelho, de Deus”, explica.
Críticas
O crescimento da prática, porém, tem gerado incômodo entre capoeiristas tradicionalistas e o movimento negro, que veem na novidade uma forma de apropriação cultural e apagamento da raiz afrobrasiliera da capoeira, prática que surgiu como forma de resistência entre escravos, a partir do século 18.
Eles também reclamam que em algumas dessas rodas haveria discursos de “demonização” contra a capoeira tradicional e as religiões do candomblé e da umbanda.
O Colegiado Setorial de Cultura Afrobrasileira, que faz parte do Conselho Nacional de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, chegou a divulgar em maio a “Carta de repúdio à ‘capoeira gospel’ e à expropriação das expressões culturais afrobrasileiras”.
O documento, uma reação ao 3º Encontro Nacional de Capoeira Gospel convocado para junho deste ano, em João Pessoa (PB), reconhece que seguidores de qualquer credo podem praticar capoeira, mas cobra “respeito” a sua tradição.
                                                                                                       Fonte: BBC

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